"Macron tem que se preocupar com a França"
"Estão querendo internacionalizar a Amazônia"
"O capitão vai garantir a Amazônia para gente"
Certamente, se você esteve acompanhando as notícias recentes e os debates pelas redes sociais, você esteve em contato com alguma dessas frases ao longo dessa semana. A questão é que tal discurso bolsonarista encontra uma incoerência tremenda por trás. Se pensarmos de forma lógica e longe de contradições, a impressão que tal argumentação nos passa é que os fiéis seguidores do Presidente prezam, acima de tudo e acima de todos, pela soberania nacional dos recursos. Porém, e aqui que a falácia se intensifica, o diálogo dos mesmos foram completamente inversos em momentos passados.
Para refrescar sua memória, quando o Brasil fechou o Acordo de Alcântara, no qual os EUA agora possuem livre acesso à base de lançamento de foguetes na cidade do Maranhão, Bolsonaro vibrou a negociação mediada por Marcos Pontes, afirmando que era um importante avanço para a ciência brasileira. Esse acordo só mostra como os bolsonaristas conseguem mudar todo seu discurso em questão de semanas, pois a intervenção francesa é péssima, mas a estadunidense é ótima. Vale lembrar que o "mito" também não foge à regra, já que em 2000, durante o governo de FHC, o mesmo acordo tentou ser firmado, e, pasmem, naquela ocasião, Jair Bolsonaro votou CONTRA tal proposta, como mostra esta reportagem de Ricardo Della Coletta (Bolsonaro votando contra acordo de Alcântara em 2001).
Além disso, a questão da Venezuela também confirma a contradição. Para os defensores do Presidente brasileiro, Maduro já é um ditador sanguinário e cabe ao Presidente dos EUA, Donald Trump, intervir no país para derrubá-lo do poder. (Nesse momento é bom ressaltar que minha opinião sobre a Venezuela será explicitada posteriormente, pois quero focar nas incoerências brasileiras primeiro). Então quer dizer que Bolsonaro e seus seguidores defendem a intervenção em outros países e não no próprio Brasil? Sim. Ou seja, o clássico "Liberalismo até a segunda página" unido fortemente ao nosso Complexo do Vira-lata, com certas doses de rendição aos Estados Unidos, está dando as caras novamente. Agora resta saber quando sairá o novo Consenso de Washington visando a internacionalização da Amazônia. (Será que teremos uma nova Fordlândia???)
Seja burrice ideológica, seja ignorância política, está claro, evidente, nítido, escancarado, que Bolsonaro e seus seguidores pouco se importam em defender uma única opinião, mas sim, mudar de visão conforme a demanda do momento. estamos presenciando um momento novíssimo da nossa democracia, na qual a vertente política que está no poder não possui projeto de desenvolvimento nacional, não sabe se defende sua soberania e não entende que nem todo mundo que o critica é "esquerdista". Estamos, literalmente, queimando de pouco a pouco sem nenhum bombeiro por perto.
Ps: Para retratar a inovação do momento, o PCO e Bolsonaro, extremos opostos do espectro político, estão defendendo a mesma coisa: a não intervenção dos imperialistas europeus nas nossas matas. São nesses momentos que a máxima "o Brasil não é para principiantes" adquire total razão.
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